“MOLDANDO AS INTERRUPÇÕES
Visitando a universidade de Notre Dame, onde fui professor
por alguns anos, encontrei um velho e experiente professor, que passara a maior
parte de sua vida ali. E, enquanto passeávamos pelo belo campus, ele disse com
certa melancolia em sua voz: "Sabe... Passei a vida inteira reclamando que
meu trabalho era interrompido constantemente, até que descobri que minhas
interrupções eram meu trabalho".
Não é verdade que muitas vezes vemos os vários eventos de
nossa vida como interrupções, grandes ou pequenos, que interrompem nossos
planos, projetos e esquemas de vida? Não sentimos um protesto interior quando
um aluno interrompe nosso curso? O mau tempo, nosso verão? Uma doença, nossos
bem programados planos? A morte de um amigo querido, nossa tranquilidade? Uma
guerra, nossas ideias sobre bondade do homem? E as tantas realidades crueis da
vida, os nossos bons sonhos sobre ela? Não é verdade que essa linha infinita de
interrupções cria em nosso coração sentimentos de raiva, de frustração e mesmo
de vingança, que chegamos a ver a possibilidade de envelhecer tornar-se
sinônimo de ficar amargo?
Mas, e se as interrupções forem na verdade as oportunidades? E se forem
desafios para provocar uma resposta interior pela qual crescemos e chegamos à
totalidade do ser? E se os eventos de nossa história nos estiverem moldando,
como o escultor molda a sua argila? E se apenas pela obediência a essas mãos
que moldam possamos descobrir nossa vocação e tornarmo-nos pessoas maduras? E
se todas as interrupções inesperadas na verdade forem convites para abandonar
estilos de vida antiquados e fora de moda e abrir novas áreas de experiência? Finalmente, e se nossa história não for uma sequência
cega e impessoal de fatos sobre os quais não temos controle e revele-nos uma
mão-guia, que aponta para um encontro pessoal no qual todas as nossas
esperanças e aspirações serão satisfeitas?
Então nossa vida seria sem dúvida diferente, pois o destino
seria oportunidade, as feridas seriam um aviso e a paralisia seria um convite
para buscar fontes mais profundas de vitalidade. Então podemos procurar
esperança em uma cidade que chora, em hospitais incendiados e em pais e filhos
desesperados. Então podemos afastar a tentação do desespero e falar sobre a
árvore fértil enquanto testemunhamos a morte da semente. Então, sem dúvida,
podemos escapar da prisão de uma série anônima de eventos e ouvir ao Deus da
história, que nos fala no centro de nossa solidão e responde a seu sempre novo
chamado à conversão.”
E se as interrupções forem na verdade as oportunidades ?
NOUWEN, Henri. Crescer: os três movimentos da vida espiritual. São Paulo: Paulinas, 2000.
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Um comentário:
Olá passando para conhecer o blog gostei mta coisa legal aqui. Bjus boa semana p ti
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