O que
diferencia a adoção de uma criança com deficiência da adoção de uma criança
saudável?
Primeiramente,
nas adoções de crianças especiais há prioridade na tramitação. Em
geral, os casos são considerados como “urgências” na SEFAM, sendo sua colocação
em uma família prioridade absoluta.
Os
requerentes realmente dispostos a receber seus filhos(as) independentemente da
condição de saúde costumam acolher mais rapidamente. Isso ocorre
porque o número de pretendentes dispostos a acolher crianças com problemas de
saúde é bem menor quando comparado ao número dos disponíveis apenas para
crianças saudáveis.
Quem
opta por essa adoção deve estar preparado para oferecer o que à criança?
Além
de amor e compromisso, os postulantes devem oferecer otimismo,
no sentido de acreditarem que, embora uma criança com deficiência possa ter
necessidades especiais, ela é sim capaz de se desenvolver. Os pais devem
fornecer a ajuda necessária para que a criança tenha confiança em si
mesma. Ainda devem estar preparados para dedicar tempo, paciência
e perseverança o quanto for necessário para atender as
demandas de saúde e proporcionar a estimulação adequada da criança. Embora uma
boa condição financeira possa ajudar nos tratamentos que determinadas doenças
demandam, o poder aquisitivo não é uma variável determinante para
o acolhimento exitoso de uma criança com problema de saúde.
Quais
são os impeditivos mais apresentados à adoção com deficiência?
Na
cabeça dos postulantes à adoção, os maiores impeditivos são questões
financeiras, questões relacionadas à falta de tempo e a junção dessas duas
variáveis. Um outro aspecto impeditivo para as adoções especiais é
a dificuldade de os postulantes entenderem que a adoção é simplesmente
uma outra forma de tornar-se pai e mãe de um ser humano tão vulnerável
e suscetível a doenças e aos demais problemas quanto eles próprios. Em que pese
todos esses argumentos, cabe a essas pessoas se perguntarem: “E se esse filho
fosse da minha barriga, eu encontraria tempo e alternativas para dedicar-me a
ele?”
O que
deve ser ponderado pelas famílias antes de adotar?
Um dos
maiores desafios refere-se ao tempo. Os requerentes devem
refletir se possuem disponibilidade para a criança, as atividades necessárias
ao seu bom desenvolvimento, os demais membros da família e as outras tarefas do
dia a dia. Quem possui um filho especial, independente de ser por adoção
ou biológico, precisa estar disponível a frequentes mudanças e
adaptações em suas rotinas. Deve observar ainda se possui rede
de apoio para a intensa rotina de atividades, consultas e
exames. Por fim, é importante estar em boas condições de
saúde para assumir os cuidados de uma criança que será, de certa
forma, dependente por longo tempo, ou mesmo por toda a vida em casos mais
graves.
Qual a
importância da rede de apoio na adoção com deficiência?
Embora
a rede de apoio seja de grande importância em qualquer adoção, ela se
torna ainda mais importante e imprescindível nesses casos. Toda
criança demanda atenção e cuidados, mas as com problemas de saúde, muitas
vezes, demandam mais. Há que se pensar em tudo que é necessário ao bom
desenvolvimento dos infantes, avaliando se os membros da família e a rede de
apoio terão reais condições de suprir suas necessidades.
Existe
algum cuidado especial com relação às famílias que fazem essas adoções?
Durante
os procedimentos de apresentação, em especial de crianças com alguma síndrome
ou deficiência, damos um tempo maior para os requerentes pensarem a
respeito da situação de saúde e das possíveis demandas da criança, a fim de que
tenham segurança na adoção. Antes da busca por famílias, os técnicos da SEFAM
também estudam a respeito da condição de saúde da criança, bem como
das implicações da doença – possíveis prognósticos, evolução durante o
acolhimento – para melhor apresentação do quadro à família.
A
equipe sempre tenta fazê-los refletirem sobre seus desejos e
expectativas, suas reais capacidades e limitações como pais e sobre os
diversos tipos de problemas de saúde que teriam condições ou não de manejar.
Claro que as equipes técnicas sempre desejam requerentes dispostos ao
acolhimento de crianças com questões de saúde delicadas, mas a honestidade
consigo mesmo nesse momento é muito importante.
Quais
os principais desafios para concretizar essas adoções?
Um dos
principais desafios é fazer com que os requerentes entendam o que realmente se
configura como um problema de saúde. Nós nos deparamos com famílias que não
estão verdadeiramente dispostas a acolher crianças com questões relevantes,
mas sim com rinite, bronquite, alergias simples, etc. Além disso, as
dificuldades em lidar com os problemas de saúde são muito subjetivas. Em alguns
casos, uma família considera a sífilis congênita como grave; outras, como
tranquila de se lidar ao longo da vida.
Pelo
extenso rol de doenças, deficiências e síndromes existentes, é
impossível abordá-las em sua totalidade nas etapas do processo de adoção.
Mesmo que a implementação do Sistema Nacional de Adoção tenha facilitado a
busca por famílias, as categorias ainda são muito amplas. Hoje se pode
optar por aceitar crianças com doenças infectocontagiosas, por exemplo, mas não
se pode optar por aceitar apenas algumas, o que dificulta chegar ao que os
requerentes aceitam.
Existe
um perfil mais recorrente de quem opta pela adoção de crianças com deficiência?
Os
perfis são bem diversos, tanto no aspecto de grau de instrução, como de áreas
de atuação profissional, idade, religião ou mesmo condição financeira. O que é
possível perceber como recorrente é a certeza de que filhos biológicos
ou por adoção são simplesmente filhos, independente de carregarem a sua
genética ou não.
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