Que acontece com aquele que exige uma postura do outro, mas não cumpre o seu próprio papel?
Ligações telefônicas não recebidas. Visitas
prometidas e não cumpridas. Companheirismo e amizade que ficam cada dia mais frios
pela falta de cultivo e da convivência, que ainda são agravados por quem pede
maior contato, mas não faz nada para que isso aconteça de fato.
Parece algo antagônico, mas o que mais
vemos hoje são pessoas com dificuldade de trocar, porque não conseguem se
relacionar bem com o outro. "Para que esse relacionamento aconteça é
preciso comunicação, diálogo e contato. A comunicação se resume em conseguir
transmitir uma mensagem, o que possibilita um diálogo que é a convivência e a
troca entre as partes. Porém o mais complicado é o contato, pois quando isso
acontece há abertura para que a vida privada seja dividida", explica a
psicóloga Roseleide da Silva Santos.
Entretanto, ela ressalta que não são todas
as pessoas que desejam ter esse contato ao ponto de não somente participar da
vida do outro, mas de se abrir para que o outro participe da sua vida também.
"O contato depende da qualidade da relação que se tem. Por isso, o mais
delicado é a forma de contato, porque ou se abrem ou se fecham para essa convivência,
já que as pessoas têm dificuldade de dar o limite para a abertura. Para alguns
é exposição demais."
Há ainda pessoas que cobram o outro por
essa falta de aproximação e convivência, mas elas mesmas estão fechadas para
que isso aconteça e sempre colocam empecilho para os encontros. "Isso
acontece porque é difícil admitir um erro. É mais fácil delegar aquilo que eu
não faço, do que reconhecer que em mim está a dificuldade de entrar em contato
com alguém. Além disso, pode ter medo da exposição da vida ao outro e nisso
abrir possibilidade de críticas, julgamentos, inseguranças", enfatiza
Roseleide.
Não somos uma ilha
A psicóloga explica que "estar em
contato com o outro é uma forma de construção pessoal, ninguém consegue se
construir sozinho, por isso é importante estar com outras pessoas. Porém, essa
construção implica em trabalho, em esforço de estar com alguém, em cultivar uma
amizade diariamente".
Para Roseleide, o problema nessa falta de
interesse de estar com as pessoas é porque as mídias sociais impuseram a
possibilidade da amizade virtual. "As pessoas querem imprimir a mesma
velocidade da internet na relação pessoal, sem terem que visitar o outro. São
relações supérfluas, pois hoje não se tem mais essa tolerância para ter uma
relação mais aprofundada. O que importa é a quantidade de amigos que eu tenho e
não a qualidade dessa amizade", exemplifica.
Convivendo com quem não quer
conviver
A psicóloga diz que a primeira coisa a
fazer é analisar o relacionamento em si. "Primeiro temos que pensar que
nossas atitudes condizem com as nossas necessidades. Se a necessidade é estar
próxima daquela pessoa, deve ter a consciência de que não será da sua forma,
mas da forma que o outro quer que seja e isso pode significar certa
frieza."
Lidar com pessoas fechadas para o convívio,
para uma relação mais íntima, não é confortável. "Deve aceitar a realidade
que não terá contrapartida da pessoa, mas também não pode submeter-se a um
relacionamento que está em total desacordo."
Ela finaliza ressaltando que um
relacionamento, seja de amizade, entre familiares e até mesmo a dois, precisa
ser valorizado por ambas as partes. "Quando se fala de amizade, se fala de
cultivo, de constância. Um bom relacionamento não é passageiro, é para
sempre."
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